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Ética e Cidadania


"A Ética é o estudo dos valores morais (virtudes), da relação entre vontade e paixão,
vontade e razão; finalidades e valores da ação moral; idéias de liberdade,
responsabilidade, dever, obrigação, etc." (Marilena Chauí, Convite à Filosofia)

 
          A ética é daquelas coisas que todo mundo sabe o que são, mas que não são fáceis de explicar, quando alguém pergunta. Tradicionalmente ela é entendida como um estudo ou reflexão, científica ou filosófica, e eventualmente até teológica, sobre os costumes ou sobre as ações humanas. Mas também chamamos de ética a própria vida, quando conforme aos costumes considerados corretos. A ética pode ser o estudo das ações ou dos costumes, e pode ser a própria realização de um tipo de comportamento.

        A palavra deriva do grego ethos, que significa hábito ou costume. O termo é usado em sentidos próximos, mas que se deve distinguir para evitar confusões:

1 Ética normativa: a investigação racional ou teoria dos padrões do correcto e do incorrecto, do mal e do bem, a respeito do carácter e da conduta, que uma classe de indivíduos deve aceitar.
Essa classe pode ser a humanidade em geral, mas também podemos pensar na ética médica, ética empresarial, etc., como um conjunto de padrões que os profissionais em questão devem aceitar e observar.
Este tipo de investigação e a teoria que dele resulta (exemplos conhecidos são a ética kantiana e a ética utilitarista) não descrevem o modo como as pessoas pensam ou se comportam, mas prescreve como devem pensar ou comportar-se. Chama-se assim “ética normativa”, visto que o seu principal objectivo é formular normas legítimas de conduta e para a avaliação do carácter. O estudo de como se deve aplicar as normas e os padrões gerais a situações problemáticas reais chama-se “ética aplicada”.
Hoje em dia, a expressão teoria ética é frequentemente usada neste sentido. Grande parte do que se chama filosofia moral é ética normativa ou aplicada.

2 Ética social ou religiosa: um conjunto de doutrinas sobre o correcto e o incorrecto, o bem e o mal, a respeito do carácter e da conduta. Reivindica implicitamente a obediência geral. Neste sentido há, por exemplo, a ética confuciana, a ética cristã, etc. É semelhante à ética filosófica normativa porque pretende ter legitimidade geral, mas difere dela porque não pretende ser estabelecida meramente com base na investigação racional.

3 Moralidade positiva: os ideais e as normas geralmente declaradas e acatadas por um grupo de pessoas, acerca do correcto e do incorrecto, do bem e do mal, a respeito do carácter e da conduta. O grupo pode ser uma nação (e.g., a ética dos índios hopis), uma entidade política (e.g., a ética sudanesa), uma organização profissional, etc.
              A moralidade positiva contrasta com a moralidade crítica ou ideal. A moralidade positiva pode tolerar a escravatura, mas esta pode ser declarada intolerável apelando a uma teoria que supostamente tem a autoridade da razão (ética normativa) ou apelando a uma doutrina que tem a autoridade da tradição ou da religião (ética social ou religiosa).

4 Ética descritiva: o estudo, de um ponto de vista externo, dos sistemas de crenças e práticas de um grupo social também se chama “ética”, e mais especificamente “ética descritiva”, visto que um dos seus principais objectivos é descrever a ética de um grupo. Também tem sido denominada etno-ética, e pertence às ciências sociais.

5 Metaética: tipo de investigação ou teoria filosófica, distinto da ética normativa, também chamada “análise ética”. Tem essa designação porque toma os conceitos éticos, proposições e sistema de crenças como objectos da investigação filosófica. Analisa os conceitos de correcto e incorrecto, de bem e mal, a respeito do carácter e da conduta, e conceitos relacionados como, por exemplo, a responsabilidade moral, a virtude, os direitos, etc. A metaética também inclui a epistemologia moral: o modo pelo qual as verdades éticas podem ser conhecidas (se é que o podem), e a ontologia moral: saber se há uma realidade moral que corresponde às crenças morais, etc. As questões sobre se a moralidade é subjectiva ou objectiva, relativa ou absoluta, e em que sentido o é, inserem-se nesta rubrica.
              
            O termo latino moralis foi usado por Cícero como um equivalente do grego ethicos e é por este motivo que em muitos contextos moral/ético, moralidade/ética, filosofia moral/ética são pares de sinónimos. Mas o uso é diversificado e o par é também usado para marcar várias distinções. Por exemplo, alguns autores usam “moral” em relação à conduta e “ética” em relação ao carácter.

(Thomas Mautner - Texto disponível em www.criticanarede.com)