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terça-feira, 9 de julho de 2013











quinta-feira, 30 de maio de 2013

Pesos, medidas e opiniões



Os três vídeos que exibo neste post levantam discussões interessantes sobre o que vivenciamos na nossa cultura hoje: uma eclosão de grupos minoritários que, justamente por se enquadrarem como tal, acreditam possuir privilégios sobre os demais grupos (utilizo a palavra "privilégio", pois tudo aquilo exigido por tais grupos já são direitos constitucionais). Com isso,  temos um sem número de grupo que procuram firmar sua opinião em detrimentos da dos demais. É nesse ínterim que aparece a reinvidicação por "justiça social", "respeito" e todos aqueles atributos que acreditam lhes serem negados.

Antes de tudo, gostaria de deixar claro aqui que não tenho a pretensão de reduzir todos esses debates a um único viés, por exemplo, o debate das cotas raciais e a liberação do casamento gay. Reconheço que tais discussões possuem dimensões distintas, embora, de fato, possuam como ponto de partida os pontos que mencionei anteriormente. O problema, meu caro amigo, é determinar exatamente quais grupos devemos atender e por quais razões ou, mais ainda, por que ignorar aquilo que outros grupos também requisitam. Segue-se daí, a pergunta fundamental, como lidar com tais medidas e pesos sem incorrer no risco de um relativismo moral? Se as leis existem para que incidam sobre todos, por que então a necessidade de criar leis que defendam somente um determinado grupo? Existem princípios fudnamentais que devem nortear tais decisões? Como determinar qual grupo deve ter suas necessidades aceitas sem que se acarrete a "coitadização" de todos os outros, isto é, sem evitar o velho, "ah, se eles têm, então eu também quero"?


Os dois primeiros vídeos, feitos por um cara que não sei quem é, levantam muita bem essa problemática e as consequências que decorrem desse processo de "coitadização", sobre como os pesos e as medidas que reivindicamos são muitas vezes ignorados e enxergamos apenas um lado da moeda.








O próximo vídeo se trata da entrevista do professor de filosofia Luiz Felipe Pondé, em que este debate sobre a imposição do politicamente correto e o risco de tal medida obscurecer nossa visão de mundo. Proibir o uso de certas palavras como uma forma de impedir alguém de enxergar o outro como inferior, não parece ser a medida mais correta, uma vez que apenas mascara a visão que as pessoas têm umas das outras. É esse o tipo de problema que pensava Kant, ao se perguntar se a moralidade de uma ação se encontra na ação em si ou na intenção que a motivou, isto é,  se chamo alguém de afro-descendente mesmo com a intenção de o denegrir, não estarei sendo preconceituoso? Mais uma vez gostaria de reiterar que não partilho de todas as minhas opiniões expostas nos vídeos, no entanto, apenas reconheço a importância de se discuti-las.







quinta-feira, 21 de março de 2013

Sobre cotas raciais


sábado, 2 de fevereiro de 2013

O caminho da perdição.



Ferréz é paulista, mora numa favela no Capão Redondo e o título de seu primeiro livro é 'Deus foi almoçar'. O que me chamou atenção em sua entrevista foi seu gosto por literatura marginal, um tipo de literatura que nem sempre é reconhecida no ambiente acadêmico, mas que sempre me atraiu pela franqueza e visceralidade, característica que preenche um bocado daquilo que espero da literatura. O que chama atenção na escrita de Ferréz é sua procura por tratar do ambiente em que está inserido, revelando-o de uma maneira extremamente transparente. Na entrevista abaixo, revela que tomou o gosto pela leitura fazendo aquilo que ia na contramão do que a escola ensinava. Feliz/infelizmente, também foi assim que tomei o gosto pela leitura; como disse o Carpinejar, "da escola, o que mais aprendi foi a voltar pra casa".  Embora eu não partilhe de todas as ideias do Ferréz, sobretudo do seu ódio contra o capitalismo, sistema etc, compartilho aqui sua entrevista por causa de sua mensagem final/total: só a leitura consegue nos tirar da idiotice crônica que carregamos desde o nascimento, só um bom livro é capaz de nos fazer mudar nosso ponto de vista e olhar o mundo de um modo diferente. No mais, creio valer a pena dar uma olhada:





 

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Vídeos para refletir.


Um Manual de Instrução para a Vida - Um bela reflexão sobre o respeito às diferenças.


Eu, o lápis - Uma reflexão sobre o processo de produção dos objetos em nossa sociedade, uma defesa da livre iniciativa entre indivíduos de uma sociedade.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

O Princípio da Máxima Felicidade e a Ética de John Stuart Mill



A ética de John Stuart Mill (Faustino Vaz)

1. O princípio da maior felicidade

         O utilitarismo é um tipo de ética consequencialista. O seu princípio básico, conhecido como o Princípio da Utilidade ou da Maior Felicidade, é o seguinte: a ação moralmente certa é aquela que maximiza a felicidade para o maior número. E deve fazê-lo de uma forma imparcial: a tua felicidade não conta mais do que a felicidade de qualquer outra pessoa. Saber por quem se distribui a felicidade é indiferente. O que realmente conta e não é indiferente é saber se uma determinada ação maximiza a felicidade. Saber se a avaliação moral de uma ação a partir do Princípio da Maior Felicidade depende das consequências que de fato tem ou das consequências esperadas é um aspecto da ética de Mill que permanece em aberto.
        Apesar de haver pessoas que não o aceitam, o princípio básico dos utilitaristas é hoje central nas disputas morais. Mas há cento e cinquenta anos foi uma ideia revolucionária. Pela primeira vez, filósofos defendiam que a moralidade não dependia de Deus nem de regras abstratas. A felicidade do maior número é tudo o que se deve perseguir com a ajuda da experiência. Isto explica que os utilitaristas tenham sido reformadores sociais empenhados em mudanças como a abolição da escravatura, a igualdade entre homens e mulheres e o direito de voto para todos, independentemente de deterem ou não propriedade.

2. O que é a felicidade?

        Mill tem uma perspectiva hedonista de felicidade. Segundo esta perspectiva, a felicidade consiste no prazer e na ausência de dor. O prazer pode ser mais ou menos intenso e mais ou menos duradouro. Mas a novidade de Mill está em dizer que há prazeres superiores e inferiores, o que significa que há prazeres intrinsecamente melhores do que outros. Mas o que quer isto dizer? Simplesmente que há prazeres que têm mais valor do que outros devido à sua natureza. Mill defende que os tipos de prazer que têm mais valor são os prazeres do pensamento, sentimento e imaginação; tais prazeres resultam da experiência de apreciar a beleza, a verdade, o amor, a liberdade, o conhecimento, a criação artística. Qualquer prazer destes terá mais valor e fará as pessoas mais felizes do que a maior quantidade imaginável de prazeres inferiores. Quais são os prazeres inferiores? Os prazeres ligados às necessidades físicas, como beber, comer e sexo.
    Diz-se que o hedonismo de Mill é sofisticado por ter em conta a qualidade dos prazeres na promoção da felicidade para o maior número; a consequência disso é deixar em segundo plano a ideia de que o prazer é algo que tem uma quantidade que se pode medir meramente em termos de duração e intensidade. É a qualidade do prazer que é relevante e decisiva. Daí Mill dizer que é preferível ser um "Sócrates insatisfeito a um tolo satisfeito". Sócrates é capaz de prazeres elevados e prazeres baixos e escolheu os primeiros; o tolo só é capaz de prazeres baixos e está limitado a uma vida sem qualidade. Mas será que é realmente preferível ser um "Sócrates insatisfeito"? Mill afirma que, se fizéssemos a pergunta às pessoas com experiência destes dois tipos de prazer, elas responderiam que os prazeres elevados produzem mais felicidade que os prazeres baixos. Todas fariam a escolha de Sócrates.
     Há filósofos que consideram a distinção entre prazeres inferiores e superiores incompatível com o hedonismo. Se, como afirma o hedonismo, uma experiência vale mais do que outra apenas em virtude de ser mais aprazível, ao aumentarmos progressivamente a aprazibilidade do prazer inferior, chegaremos a um ponto em que este pesará mais do que um prazer superior na balança dos prazeres; e nesse caso, se quisermos manter o hedonismo, a distinção entre prazeres inferiores e superiores deixará de fazer sentido e terá de ser abandonada. Convido-te a imaginar que resposta poderá ser dada a esta objecção em defesa da ética de Mill.

3. A defesa de mill do princípio da maior felicidade

A prova de Mill do Princípio da Maior Felicidade consiste num argumento que parte da analogia entre visibilidade e a desejabilidade. Podemos reconstruí-lo da seguinte maneira:
  1. Ver uma coisa prova que ela é visível.
  2. Logo, desejar uma coisa prova que ela é desejável.
    A seguir a esta conclusão afirma-se:
  3. A única coisa que cada pessoa deseja como fim último é a sua própria felicidade.
  4. Logo, a única coisa que é desejável como fim último para cada pessoa é a sua própria felicidade.
    Da conclusão afirmada em 4 resulta uma outra:
  5. Logo, cada pessoa deve realizar as ações que promovem a maior felicidade.
    Que avaliação podemos fazer deste argumento? Desde logo, é provável que você note o seguinte problema: 1 não é uma razão para aceitar 2; se pode ver uma coisa, isso significa que ela é visível; mas se podes desejar uma coisa, isso não significa que ela seja desejável, isto é, que deva ser desejada. Por que razão a analogia não resulta? 
     Vejamos agora a premissa 3. Trata-se de uma premissa falsa ou pelo menos bastante duvidosa. Dizer que a felicidade é o fim último de cada pessoa significa que tudo o que as pessoas desejam é um meio para assegurar esse fim. Se desejares que as crianças sujeitas a maus-tratos recebam amor e proteção, Mill diz que queres isto como um meio para assegurar a tua felicidade. Mas a verdade é que o bem-estar dos outros tem uma importância que não depende da importância que dás à tua felicidade. Como ninguém pode negar que muitas pessoas têm preferências deste tipo, a premissa 3 é falsa. Por outro lado, pessoas deprimidas parecem por vezes não desejar a sua própria felicidade.
     E o que dizer do raciocínio que conclui 4 a partir de 3? Se pensar bem, verá que é o mesmo tipo de raciocínio que conclui 2 a partir de 1. Logo, o problema que levanta é o mesmo. Do fato de desejar como fim último a sua própria felicidade não se segue que a coisa mais desejável para ti é ver os teus desejos satisfeitos. Isso depende do tipo de desejos que você tem. Se tiver desejos violentos, o melhor para ti é abandoná-los.
     De qualquer modo, imagina que 4 é verdadeira. Será que daí se pode concluir 5? Mesmo que a tua felicidade seja a coisa mais desejável para ti, isso não implica que deves maximizar a felicidade geral. Em certas circunstâncias, a felicidade dos outros exige que sacrifiques a tua felicidade, e não que a persigas. Acresce que 5 parece contradizer 3. Ao dizer de maneira descritiva, e não normativa, que cada um deseja apenas a sua felicidade, 3 exprime um egoísmo psicológico; e nesse caso, como os seres humanos de facto apenas podem desejar a sua própria felicidade, segue-se que não lhes é possível ter como fim a felicidade geral.     

O anel de Giges - existem homens juntos?



       Para provar que só se pratica a justiça contra própria vontade e pela incapacidade de cometer a injustiça, não poderíamos fazer nada melhor do que imaginar o seguinte. Demos ao homem de bem e ao corrupto igual poder de fazer o que quiserem e os sigamos para ver aonde a paixão os vai conduzir. Surpreenderemos o homem de bem tomando o mesmo caminho do corrupto, levado pelo desejo de ter sempre mais, desejo que toda natureza persegue como um bem, mas que a lei sujeita, à força, ao respeito à igualdade. O melhor meio de lhes dar o poder de que falo é lhes emprestar o privilégio que, dizem, Giges, o antepassado do Lídio, possuiu outrora. Giges era um pastor a serviço do rei que reinava então na Lídia. Em conseqüência de uma grande tempestade e de um terremoto, o solo tinha-se fendido e uma medonha abertura tinha-se formado no lugar onde ele apascentava seu rebanho. Admirado com o que via, viu um cavalo de bronze, oco, com portinholas e, tendo passado a cabeça através de uma delas, viu um homem que estava morto, segundo toda a aparência, e cuja estatura ultrapassava a estatura humana. Esse homem estava nu; tinha somente um anel de ouro na mão. Giges o pegou e saiu. Ora, tendo-se reunido os pastores como de costume para fazer ao rei seu relatório mensal sobre o estado dos rebanhos, Giges veio à assembléia, trazendo no dedo o seu anel. Tendo tomado lugar entre os pastores, girou, por acaso, o anel de tal modo que a pedra ficou do lado de dentro de sua mão e, imediatamente, ele se tornou invisível para seus vizinhos, e falava-se dele como se tivesse partido, o que o encheu de espanto. Girando de novo seu anel, virou a pedra para fora e imediatamente tornou a ficar visível. Atônito como o efeito, repetiu a experiência para ver se o anel tinha realmente esse poder e constatou que, virando a pedra para dentro, tornava-se invisível; para fora, visível. Tendo essa certeza, fez-se incluir entre os pastores que seriam enviados até o rei como delegados. Foi ao palácio, seduziu a rainha e, com a sua ajuda, atacou e matou o rei; em seguida, apoderou-se do trono. Suponhamos, agora, dois anéis como esse; coloquemos um no dedo do homem justo e o outro no do injusto; segundo o que tudo indica, não encontraremos nenhum homem de caráter suficientemente forte para permanecer fiel à justiça e resistir a tentação de se apoderar do bem de outro, já que poderia, impunemente, pegar no mercado o que quisesse, entrar nas casas para copular com quem bem lhe parecesse, matar uns e quebrar as armas de outros, em resumo, poder proceder em tudo como um deus entre os homens. Quanto a isso, nada o distinguiria do corrupto, e todos os dois tenderiam para o mesmo fim, e poderíamos ver nisso uma grande prova de que não se é justo por escolha, mas por imposição, visto que não vemos a justiça como um bem individual, pois sempre que julgamos poder ser injustos, não deixamos de o ser.
               Todos os homens, com efeito, crêem que a injustiça lhes é muito mais vantajosa individualmente do que a justiça, e têm razão para acreditar nisso, se nos referimos àquele que é partidário da doutrina que exponho. De fato, se um homem que tivesse um tal poder não consentisse nunca em cometer uma injustiça e em apoderar-se de um bem de outrem, seria considerado por aqueles que estivessem a par do segredo como o mais infeliz e o mais insensato dos homens. Nem por isso deixariam de elogiar em público a sua virtude, mas com o intento de se enganarem mutuamente, no temor de sofrerem, eles mesmos, alguma injustiça. Era isso o que tinha a dizer sobre o assunto.
Platon, Oeuvres completes, t. VI, La republique, livro II, texto estabelecido e traduzido para o francês por Émile Chambry, ©Las Belles Lettres, Paris, 1932
    Trecho retirado de: Oficina de Filosofia
 



      A história do anel de Giges aparece pela primeira vez no famoso diálogo A República, escrito pelo filósofo grego Platão.  Tal história serve para ilustrar uma discussão fundamental acerca da natureza humana e os princípios éticos, o homem é bom por natureza ou todos os homens são naturalmente injustos? Ao mostrar que Giges, um homem de boa índole, ao adquirir um anel que lhe dava o poder de ficar invisível resolveu cometer várias injustiças, o personagem do diálogo de Platão, Glauco, afirma que o homem só pratica a justiça por ser incapaz de cometer a injustiça sem ser punido. No entanto, é fato que todos acreditam que há mais vantagens na injustiça do que na justiça. Assim, embora os homens concordem que é correto punir Giges por suas ações, todos agiriam do mesmo modo caso possuíssem o anel. A distinção entre homem bom e mau, portanto, não se sustenta segundo a história de Giges, pois todos os homens são potencialmente corruptos, bastando que lhes seja dada a oportunidade de agir de tal modo sem que haja a possibilidade de punição. Mais ainda, um dos pontos principais da história é a necessidade do estabelecimento de regras que determinem a ordem social, dado que nenhum homem é virtuoso voluntariamente. O homem só pratica o bem porque não gostaria que alguém lhe praticasse o mal, embora todos possuam a mesma natureza, afirma Glauco.